A notícia do fim da Insurreição (Revolta) do Queimado é relatada em Ofício (Carta) do Chefe do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos ao Presidente da Província, datado de 20 de março de 1849. O Ofício revela a presença de uma Escrava participando da Insurreição, da Revolta do Queimado. Guerreira. Mulher de um dos Escravos:
"Cumpre-me levar ao conhecimento de Vossa Excelência que cheguei hoje a esta Freguesia do Queimado às 4 horas da manhã e constando-me, poucos momentos depois, que um grupo de escravos armados, em número de cinquenta mais ou menos, estava reunido nas imediações dela, e que se dirigia para aqui com o plano de proclamarem a sua liberdade, e de assassinarem todos aqueles que porventura a isso se opusessem, dei imediatamente ordem ao Alferes, comandante do Destacamento, que marchasse sobre eles com as praças à sua disposição e com mais alguns cidadãos que pude reunir, conservando-me aqui com algumas pessoas deste Distrito. E, sendo os ditos Escravos encontrados na ladeira que desce para Aroaba, em direção para esta Freguesia, foram aí completamente batidos pelo referido Destacamento, e gente a ele reunido, em um ataque que durou seguramente meia hora, sendo em resultado mortos oito, presos seis e uma Escrava, mulher de um deles (...)"
O Escritor Luiz Guilherme Santos Neves na sua obra Literária "O Templo e a Forca", que funde ficção com o fato histórico da Revolta do Queimado, cria a figura da Escrava Bastiana. Ela seria a tal negra anônima citada no ofício do Chefe de Polícia e que participa da luta entre os Negros revoltosos e a milícia (Polícia) e seria a mulher de Chico Prego. Um romance amoroso de um herói da Serra.
Já o Escritor João Felício dos Santos, autor do Romance "Chica da Silva", sucesso no Cinema sob a direção de Cacá Diegues, cria a figura de Benedita Torreão, trabalhando de forma literária dentro de uma ficção histórica, explorando a presença da mulher, afro-brasileira presa pelo Chefe do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos, no dia 20 de março de 1849. Trata-se do Romance, "Benedita Torreão da Sangria Desatada", publicado no Rio de Janeiro em 1983, que conta a saga de uma Escrava que realiza abortos na intenção de livrar os Negros do Cativeiro ainda antes de nascerem. Na propaganda do referido Romance consta como Sinopse (resumo), o seguinte: "O romance põe em relevo a insurreição de Queimado, um efêmero levante de escravos, ocorrido no Espírito Santo em 1849, cujo pivô foi a igreja Matriz do Queimado, que os escravos construíram numa enganosa crença, suscitada pela má fé de um capuchinho italiano, frei Gregório de Bene, de que ganhariam alforria no final da obra. Igreja erigida com suor de escravos e consagrada com seu sangue. Multifloriado romance, que ainda lega à literatura brasileira essa personagem maiúscula que é Benedita Torreão, individualidade humaníssima, carnal e óssea que, “amante do incendiado da liberdade”, encarna o espírito da ressurreição escrava, tornando-se seu próprio símbolo e alegoria." Usando de uma licença poética e romanceando a Insurreição, com a força da ficção, técnica de imaginação inerente aos Escritores, podemos dizer que Sebastiana Benedita Torreão era a Escrava anônima citada por José Inácio Acioli de Vasconcelos. A mulher Guerreira Sebastiana, a Bastiana, companheira do Guerreiro Chico Prego.
O Escritor João Felício dos Santos nasceu na comarca de Mendes, Estado do Rio de Janeiro, em 14 de março de 1911. Sobrinho do historiador mineiro Joaquim Felício dos Santos, de Diamantina, foi jornalista, publicitário e funcionário público federal. Topógrafo de profissão ingressou no Ministério de Viação e Obras Públicas em 1932. Viajou várias vezes pelo país a serviço do governo e também por conta própria, com o intuito de conhecer a história e os costumes nacionais. Sua estréia na literatura ocorreu em 1934, com o livro de poemas Palmeira-real. Em 1956, lançou o infantil João Bola. Só depois de ouvir o ponto de vista de personagens comuns sobre importantes capítulos da história nordestina foi que se sentiu apto a escrever livros como João Abade (1958), sobre a Guerra de Canudos, e Major Calabar (1960), no qual desenha um rigoroso retrato da invasão holandesa em Pernambuco. O romance Carlota Joaquina - A Rainha Devassa, publicado em 1968 (relançado em 2008 pela José Olympio), antecipou em décadas o filme de Carla Camurati. Já Ganga-Zumba antecedeu o famoso espetáculo Arena conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. A Guerrilheira - O Romance da Vida de Anita Garibaldi antecedeu em muitos anos o livro e a minissérie A Casa das Sete Mulheres, da Rede Globo. Sua verve literária, marcada pela pesquisa e pelo texto de estilo fluente, permitiu-lhe lançar luzes sobre capítulos obscuros da vida brasileira com estilo que lembra o dos grandes clássicos. Morreu aos 78 anos, no Rio, deixando mulher, filha e o romance inédito, Rotas de Além-Mar. Chica da Silva, graças ao cinema se tornou a obra mais popular de João Felício dos Santos. Ganga-Zumba, considerado seu grande clássico, ganhou edição de bolso pela Ediouro, com ilustrações do artista plástico Caribé. Seu último livro publicado, Margueira Amarga, foi ilustrado por Poty.
REFERÊNCIAS :
http://www.clerioborges.com.br/revolta.html
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